Ando demasiadamente preocupada com os arroubos juvenis da adolescência. Um dia toda pequena arteira acaba por virar moça, e, a minha, uma obstinada, teimosa, preguiçosa, com pouca auto-estima e com muita mentira pela frente. O facto é que acabou por levar a pensar em mim com a mesma idade. Sim, porque eu também era teimosa, preguiçosa e com pouca auto-estima. Então se me saí bem, porque me preocupar com os mesmos defeitos em minha não-tão-pequena moça. Acontece que uma coisa que eu sempre acreditei era no estudo, na possibilidade que ele me daria para mudar o meu futuro. E mudou-me. Apresentou-me o mundo todo a frente, sem limites.
Sim, eu sempre acreditei em benefícios a longo prazo, e enquanto muitas meninas pensavam em se divertir, curtir a vida adoidado, eu passava horas a estudar, a pensar que um dia, eu teria todo o tempo para me divertir, ao cúmulo de sentir falta da escola quando estava em férias. Sim, porque eu era um bicho estranho, com pouca auto-estima em sentimentos e em beleza, mas com a única possibilidade, o estudo, para tirar dum destino que era certo, e driblar o destino certo, uma vida no mesmo lugar, a casar e ter um monte de filhos possivelmente antes dos 25 anos.
Sim, eu acabei por me casar, e se ainda não tenho filhos é porque eles não vêm, não porque não os quero. Porém, mais importante que isso, foi conhecer as pessoas que conheci, conhecer outros lugares, outras pessoas. Então saio de mim, e volto para esta outra pessoa aos seus quase 15 anos para tentar lhe dizer, que há vida para além dos subúrbios do Rio de Janeiro. Que, se não hoje, ela vai ter todas oportunidades de mudar a sua vida, que ela precisa acreditar nos estudos. O problema é que a pequena não acredita, e apesar de todas as oportunidades melhores que tivemos, ela não aproveita.
Sigo a vê-la nesta vida errante, tentando não me preocupar, porque cada um acaba fazendo escolhas que nos arrependemos e nos custa. Gostaria que ela não as fizesse, mas o que será que posso fazer além. Deixar cair e cometer erros, talvez não tarde demais ainda dê para corrigi-los. E quem disse que gostaria de voltar a adolescência, sujeito estranho é, eu só de pensar na possibilidade dá-me um arrepio ruim.
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